Shamsia Hassani e Sahraa Karimi usaram as redes sociais para mostrar a violência da tomada de poder do Talibã no país; conheça a trajetória delas
Na semana passada, quando o Talibã assumiu o poder no Afeganistão, importantes vozes femininas ressonaram nas redes sociais denunciando o horror a qual as mulheres do país estavam prestes a viver.
A artista e primeira grafiteira do país, Shamsia Hassani, publicou nas redes sociais algumas obras retratando o desespero das mulheres frente à repressão violenta imposta pelo grupo extremista. Sua arte viralizou nas redes sociais.
Acredita-se que o Talibã irá impor uma interpretação própria do islamismo na qual as mulheres não têm quase nenhum direito, e pune aquelas que de alguma forma infrigem suas ordens de maneira violenta –quando não são condenadas à morte.
A cineasta Sahraa Karimi também usou a internet para denunciar a perseguição de artistas e fez um apelo para que a comunidade internacional voltasse sua atenção à violência que estava se instalando no país e, de alguma forma, enviasse socorro e ajudasse os refugiados.
A seguir, contamos um pouco da história destas duas artistas que arriscaram suas vidas para mostrar a realidade do que está acontecendo no país do oriente médio.
Shamsia Hassani
Nascida em abril de 1988 no Irã, Shamsia Hassani é a primeira mulher a trabalhar com a arte do grafite no Afeganistão. Ela é filha de refugiados afegãos e se mudou para o país em 2005 para estudar pintura e artes visuais na Universidade de Cabul.
Por meio de suas obras, Shamsia retrata a vivência de mulheres afegãs em uma sociedade dominada pelo machismo. A personagem que aparece corriqueiramente em sua arte traz à tona um lado pouco visto das mulheres do país, exaltando a força, a ambição e a potência que há nelas com uma explosão de cores.
Os muros danificados por bombardeios pela cidade são uma de suas telas favoritas. É neles que a artista retrata as mulheres do país, todas, claro, vestindo roupas tradicionais da cultura local. Com uma certa frequência, curiosamente, aparecem junto a instrumentos musicais. Sua missão, segundo afirmou a veículos de imprensa internacionais, é tornar a cidade mais bela, dando cor à escuridão da guerra.
Shamsia compartilhou sua experiência com seus alunos na Universidade de Cabul, capital do Afeganistão, onde deu aula de arte urbana em murais. Algumas de suas obras já foram exibidas em países como Índia, Irã, Alemanha, Itália, Suíça e nas missões diplomáticas de Cabul.
Após a tomada do Afeganistão pelo Talibã na semana passada, porém, a arte de Shamsia ganhou uma nova projeção. Duas pinturas mostram meninas aterrorizadas vestindo um traje azul enquanto a imagem de homens ameaçadores armados pairam sobre elas. As publicações ganharam dezenas de milhares de curtidas no Instagram e foram compartilhadas outras milhares de vezes no Facebook.
Com o caos instalado no país, a artista evitou qualquer tipo de pronunciamento, deixando sua arte falar por si própria. Um representante da artista foi procurado pela emissora alemã Deutsche Welle e garantiu que ela está em um local seguro.
Sahraa Karimi
Sahraa Karimi é uma cineasta que tem em seu currículo mais de 30 filmes, curtas e documentários. Desde que se formou na Academia de Televisão e Cinema da Eslováquia, ela vem usando a sétima arte para contar histórias de suas conterrâneas que buscam mudar de vida em uma sociedade tradicional.
A afegã já teve uma de suas obras exibidas no Festival de Cinema de Veneza em 2019 e é, também, a primeira e única mulher no Afeganistão a ter um título de doutorado em cinema.
Sua bem sucedida trajetória no ramo lhe rendeu o convite para assumir a presidência da estatal Afghan Film Organization e o posto de direção do sucesso de crítica “Hava, Maryam, Ayesha”. O filme conta a história de três afegãs de diferentes classes sociais que refletem sobre a condição feminina no país.
Após a tomada do Afeganistão pelo grupo extremista Talibã na semana passada, Sahraa deixou o país com a ajuda da Academia de TV e Cinema da Eslovênia e dos governos da Ucrânia e Turquia.
Antes, ela havia publicado um apelo na internet pedindo ajuda da comunidade internacional de cinema. “Se o Taleban assumir, eles irão banir toda a arte. Eu e outros cineastas podemos ser os próximos alvos”, escreveu em seu perfil no Twitter. “Eles massacraram nosso povo, sequestraram muitas crianças, venderam meninas como noivas para seus homens ”, lamentou.
A cineasta também documentou a situação nas redes sociais, postando no Facebook e no Instagram alguns vídeos de sua fuga para o aeroporto de Cabul, para onde também foram outros milhares de afegãos. Atualmente, Sahraa está refugiada na Ucrânia.
Fonte: VOGUE