A Cooperativa Sicredi anunciou na manhã de hoje a suspensão de seu patrocínio ao Operário de Várzea Grande, após o clube confirmar a contratação do goleiro Bruno Fernandes. A chegada do reforço também causou revolta em torcedoras do clube e no Conselho Estadual dos Direitos da Mulher de Mato Grosso.
(UOL, 20/01/2020 – acesse no site de origem)
Bruno foi condenado a mais de 20 anos de prisão pelo sequestro, homicídio e ocultação de cadáver da ex-namorada Eliza Samúdio, em 2010, e obteve autorização da Justiça de Minas Gerais viver em Mato Grosso e defender o Operário.
A suspensão do contrato de patrocínio foi confirmada pela assessoria de imprensa do Sicredi, que ressaltou que o valor é pago à Federação Mato-Grossense de Futebol e repassado aos times. A cooperativa também determinou que a logomarca não seja mais estampada nos uniformes do Operário.
O supervisor do clube, André Xela, confirmou que o nome do Sicredi será retirado dos uniformes na próxima temporada. No entanto, destacou que a diretoria do time não tem pretensão de voltar atrás na contratação de Bruno.
Xela afirmou que uma coletiva de imprensa será marcada para apresentar o novo goleiro do time, no entanto, a data de chegada de Bruno à cidade não será divulgada.
Após pressão em comentários nas redes sociais, outra empresa, responsável pela produção e fornecimento dos uniformes do Operário de Várzea Grande, também se pronunciou.
Em nota, a Invicttus explicou que não possui “poder para contratar jogador A ou B”, e que foram contratos exclusivamente para produzir as peças para a temporada de 2020, portanto, o acordo deveria ser mantido.
Manifestação
Uma manifestação contra a chegada de Bruno está marcada para acontecer amanhã, às 19h, no portão principal do estádio Dito Souza, em Várzea Grande. A presidente do Conselho Estadual dos Direitos da Mulher de Mato Grosso, Gláucia Amaral, explicou que o grupo não é contra a ressocialização, mas repudia a possibilidade de o goleiro voltar a ser um ídolo.
Para Gláucia, a mensagem implícita pela contratação do Operário de Várzea Grande é de que o feminicídio é tolerado em Mato Grosso e de que as vidas das mulheres valem pouco ou quase nada.
“Se fosse um latrocínio? Um jogador de futebol invade uma empresa e mata o dono. Será que ele seria disputado por times de futebol? Será que matar uma mulher é algo tão banal?”, questionou ela. De acordo com Gláucia, os times de futebol são isentos dos pagamentos de imposto por conta da função social e, portanto, deveriam “ouvir” a opinião da sociedade em casos de contratação como a de Bruno.
“O Operário de Várzea Grande tem mando de campo na Arena Pantanal, um estádio construído com milhões de reais em recursos públicos. Saiu do nosso bolso, então, eles têm que ouvir parte da sociedade que não deseja que ele seja palco de feminicida”, ressaltou.
O grupo também levou em consideração que, através do futebol, ídolos são criados e servem de inspiração para crianças e jovens em processo de formação. Em nota de repúdio, o Conselho Estadual dos Direitos da Mulher de Mato Grosso, afirmou que Bruno demonstrou “profundo ódio e total desrespeito às mulheres ao tratar de forma cruel e bárbara aquela que seria a mãe do seu filho”.
Gláucia também citou o caso da torcedora símbolo do time, Mariana Fernandes Macedo, que, após o anúncio do novo jogador, afirmou não pretender ir mais aos jogos do clube.
A presidente ressaltou que o grupo pretende pressionar outros patrocinadores do time para não se omitirem à contração de Bruno.
Por Bruna Barbosa Pereira
Fonte: Agência Patrícia Galvão