A questão do aborto é cheia de estigmas no Brasil e com as mulheres que interrompem ilegalmente uma gravidez indesejada não é diferente. Para lançar luz sobre este tema, a jornalista Hanna Oliveira, 22 anos, de São Paulo, escreveu um livro-reportagem relatando a história de quatro mulheres tratadas como criminosas após abortarem. Em “As mulheres que ninguém vê”, a escritora tenta romper a invisibilidade de mulheres marcadas pelo gênero, classe social e cor. Uma campanha na internet busca arrecadar fundos para publicar o trabalho.
A ideia do livro, relata a autora, surgiu do trabalho de conclusão do curso de Jornalismo dela e da própria aproximação de Hanna com questões de gênero. “Certo dia, desses que a gente se dedica ao ócio construtivo, pensei se mulheres efetivamente eram presas ou criminalizadas pelo aborto. Numa pesquisa rápida, achei uma matéria que comprovava meu pensamento: sim, elas eram presas. Foi então que vi sinal verde para dar início a esse projeto”, conta Hanna, que precisou enfrentar, ao longo da pesquisa, a dificuldade em encontrar referências bibliográficas que debatessem a questão.
Mesmo assim, garante a jornalista, foi uma experiência bastante rica. Para Hanna, as histórias dizem muito mais do que aspectos que envolvem o aborto. “Dizem respeito a gênero, classe social, raça. Falar sobre essas histórias é falar sobre muitas marcas e feridas da nossa sociedade como um todo. Cada uma delas me marcou de alguma forma e há um elo comum que une todas as histórias”, assinala.
A autora avalia que, a partir dos relatos, também passou a ver a maternidade de forma mais clara e real, principalmente em um momento em que direitos das mulheres estão em discussão no Congresso. “Contar essas histórias por meio de um livro-reportagem é uma forma de resistir. Tentar trazer conceitos como a dialogia, principalmente, me parece ser fundamental para ao menos tentar fazer com que se olhe com um pouco de empatia para essas mulheres. É uma tentativa difícil, principalmente, porque o aborto tange questões muito sensíveis no Brasil, como a ética religiosa, tão intrínseca na vida de milhões de brasileiros”, pontua Hanna.
A campanha de arrecadação para o “As mulheres que ninguém vê” segue até o dia 21 de dezembro e pode ser acessada aqui.
Fonte: Maria vai e faz