Alunas da USP, maior universidade do país, convivem com o medo da violência –a mais temida é a sexual
Sofia, que cursa história, evita caminhar pelo campus à noite desacompanhada. Quando está só, se sente ameaçada pela presença de qualquer homem, mesmo que este seja um integrante da Guarda Universitária ou um policial militar.
(UOL, 04/04/2017 – acesse a íntegra no site de origem)
Bruna, de ciências biológicas, interrompe experimentos no laboratório para garantir uma carona, com medo de ficar sozinha no ponto de ônibus.
Luana, da oceanografia, deixou de ir às aulas de capoeira com pavor de passar perto do “matão” da Cidade Universitária. Todas elas são estudantes da maior universidade pública do país, e também a mais importante, a USP (Universidade de São Paulo). Todas conhecem histórias de abuso sexual. Todas têm medo de serem estupradas.
Leia mais: Para USP Mulheres, questões sobre gênero devem ser debatidas em aula (Jornal da USP, 30/03/2017)
Relatório recém-finalizado da Comissão contra a Violência de Gênero do Conjunto Residencial da USP (Crusp), ao qual a reportagem teve acesso com exclusividade, confirma que o medo se estende à moradia estudantil (Leia a íntegra do documento)
Ao analisar casos de violência sexual, física, moral e psicológica contra moradoras, o grupo concluiu que a maioria das ocorrências não são reportadas ou não são registradas formalmente pela Superintendência de Assistência Social (SAS), o órgão encarregado da universidade.
De 17 denúncias registradas entre 2009 e 2016, apenas três foram apuradas. E nenhuma resultou em punição aos agressores –alguns deles, reincidentes. A comissão conclui que a SAS não respeita nem sequer a Lei Maria da Penha, que poderia proteger as estudantes contra a violência doméstica praticada por seus parceiros.
Questionado sobre os casos de violência ocorridos no Crusp, o superintendente de Assistência Social, Fábio Guerrini, disse que repudia enfaticamente qualquer tipo de violência contra a mulher e que está tomando providências no âmbito administrativo. “Foram instauradas sindicâncias para apurar os fatos, com o acompanhamento da Comissão de Direitos Humanos da Universidade e o SOS Mulher da SAS”, afirma. A
SAS-USP é o órgão responsável pelo Crusp.
Ele ressalta que o sistema jurídico da universidade não permite a aplicação de penalidades drásticas, como desligamento de alunos, de forma sumária. “Após o devido processo legal, caso sejam confirmados os fatos e a sua autoria, as punições cabíveis serão aplicadas.”
Helder Ferreira do Eder Content, em São Paulo
Fonte: Agência Patrícia Galvão