Se a ciência diz, é verdade? Nem sempre. A resposta é da jornalista britânica Angela Saini, autora do livro “Inferior É o Car*lho” (DarkSide Books), lançado em 2018, em que lista algumas das maiores mentiras contadas sobre mulheres ao longo da história.
Da incapacidade para algumas atividades por ter um cérebro “mais leve” ao papel natural de passividade, Angela refuta algumas teorias que já existem há séculos e incluem entre os autores, inclusive, grandes nomes, como Charles Darwin (1809-1882), autor de “A Origem das Espécies” (1859).
Veja, abaixo, os principais pontos levantados por Angela:
1. Mulheres só conseguem se destacar em alguma tarefa porque receberam atributos do pai vindos do espermatozoide
Uma constatação absurda para 2019, mas em 1871, para Darwin, fazia todo sentido. Um dos nomes mais famosos da história da ciência, Darwin afirmou no livro “A Descendência do Homem” que a principal diferença entre homens e mulheres é que os primeiros são sempre melhores em qualquer atividade que desempenhem e que se acontecer de mulheres serem boas em alguma tarefa é porque a habilidade lhe foi passada pelo pai.
2. Mulheres não podem votar porque desempenham papel de passividade na sociedade
A evolução humana explica a supremacia masculina a partir da concepção: como o espermatozoide é ativo e o óvulo, passivo, seria assim com homens e mulheres, respectivamente.
No livro “The Evolution of Sex” (“A Evolução do Sexo”, sem edição no Brasil), de 1889, o biólogo Patrick Geddes e o naturalista John Arthur Thomson afirmam que seria necessário que a evolução humana acontecesse de novo para mudar esse quadro. “O que foi decidido entre os protozoários pré-históricos não pode ser anulado por uma Lei do Parlamento”, escreveram, referindo-se ao movimento de mulheres que pediam direito ao voto.
3. Homens superam mulheres em matemáticas e ciências por causa da diferença biológica
Em 2002, o psicólogo e neurocientista Simon Baron-Cohen, do departamento de psicologia experimental e psiquiatria da Universidade de Cambridge, publicou um artigo em que cria a teoria da empatia-sistematização. Segundo ele, o cérebro feminino seria programado para a empatia e para a solidariedade, já o masculino seria bom para analisar e desenvolver sistemas de carros a computadores. Em 2005, o presidente de Harvard disse que há poucas mulheres na ciência por causa de diferenças biológicas em relação aos homens.
Um dos estudos mais conhecidos que refutam essa teoria é de 2010 e foi escrito pela psicóloga Melissa Hines, da Universidade de Cambridge. Em um experimento com crianças, ela afirmou que diferenças quanto à habilidade motora, capacidade matemática e visualização espacial são ínfimas e não se pode afirmar que havia relação com o gênero delas.
4. O cérebro das mulheres pesa 140 gramas a menos do que o masculino e, por isso, elas são menos inteligentes
O biólogo George Romanes publicou um artigo na revista “Popular Science Monthly”, em 1887, afirmando que o cérebro da mulher pesa menos do que o do homem e, por razões anatômicas, “devemos estar preparados para esperar uma acentuada inferioridade do poder intelectual na primeira”.
Essa teoria não é mais aceita pela ciência — ufa! — e qualquer diferença de tamanho do cérebro de dois seres humanos tem relação com o peso corporal. Segundo Paul Matthews, chefe do departamento de ciências cerebrais da Imperial College de Londres e autor de uma pesquisa sobre o tema, se essa proporção for respeitada, a diferença entre o cérebro masculino e o feminino é ínfima.
5. Mulheres são naturalmente monogâmicas, enquanto os homens são naturalmente poligâmicos
As pesquisas na área da biologia tentaram provar isso por anos baseando-se em análises de comportamento de animais. A mais famosa foi feita com moscas drosófilas, em 1948, e é de autoria do botânico e geneticista britânico Angus John Bateman.
Resumindo: a partir da observação do acasalamento das moscas, ele afirmou que machos são naturalmente mais promíscuos, e, as fêmeas, mais seletivas. Nos anos posteriores, isso se estendeu aos humanos e já foi citado pelo menos 11 mil vezes em estudos científicos.
Atualmente, há pesquisas confirmando que fêmeas de espécies de salamandras, gafanhotos, macacos, roedores, entre outros bichos, acasalam com diversos machos, mostrando que não é um padrão universal que fêmeas sejam passivas e monogâmicas.
6. A mulher envelhece, fica feia, “enfadonha” e menos feminina
Em 1966, um livro chamado “Eternamente Feminina”, escrito pelo ginecologista americano Robert Wilson e publicado no Brasil, atribuía á reposição hormonal feminina a cura para alguns “problemas”, na visão masculina, que a idade poderia trazer às mulheres. “Seios e órgãos genitais não murcharão”, diz o livro, “e ela se tornará alguém muito mais agradável de conviver e não se tornará enfadonha e pouco atraente”.
Em 1981, descobriu-se que o livro havia sido financiado pela Wyeth, uma das maiores fabricantes de remédio dos Estados Unidos.
Fonte: UOL