Toda mulher sabe o alívio que é quando, caminhando sozinha por uma rua, descobre que quem vem atrás é outra mulher e não, um homem. A situação tem, inclusive, gerado ilustrações e cartazes que são cada vez mais compartilhadas nas redes sociais e é o mote do projeto idealizado pela jornalista Babi Souza, 24 anos, moradora de Porto Alegre. Em pouco mais de um mês, a campanha ‘Vamos Juntas?’, criada no Facebook, já conta com mais de 170 mil pessoas inscritas.
A ideia é simples e o foco é mostrar a importância de as garotas se apoiarem mutuamente sejam elas amigas ou desconhecidas. Se você sente que alguma menina está com medo ou se percebe que ela está sendo vítima de assédio, ajude.
A campanha também coloca em pauta uma das bandeiras do feminismo para a emancipação da mulher, a sororidade. A palavra que, simplificadamente, significa a solidariedade e o apoio entre as mulheres em diversas situações vem para quebrar um dos pilares da sociedade patriarcal e machista: a rivalidade entre mulheres.
No Brasil, 30% das meninas entre 16 e 24 anos já foram beijadas a força; nesta mesma faixa etária, 31% já foi assediada fisicamente em transporte público e 68% relata já ter recebido uma cantada ofensiva, violenta ou desrespeitosa.
O projeto ‘Vamos Juntas?’ tem se mostrado tão bem-sucedido que já foram criados grupos em cada região do país (clique o conheça o ‘Vamos Juntas – Sudeste’) e deles têm nascido comunidades para diferentes cidades. Belo Horizonte já tem a sua. A estudante de pedagogia Ana Cláudia Oliveira, 25 anos, é uma das colaboras do ‘Vamos Juntas?’ e media a comunidade que foi organizada para reunir meninas da capital mineira e que se desdobrou ainda em um grupo no WhatsApp.
Lembrando que, para segurança de todas, não é recomendado divulgar ou combinar trajetos dentro desses grupos já que esses espaços têm a função principal de as apoiadoras do projeto se conhecerem. Na capital mineira, um encontro presencial deve acontecer em breve para que as garotas se conheçam pessoalmente.
Para Ana Cláudia Oliveira, a ideia é as mulheres não se sentirem intimidadas a pedir ajuda ou companhia. Segundo ela, as histórias já começaram a ser compartilhadas. A estudante de pedagogia cita uma que a tocou em especial. Uma mulher, que é mãe, contou no grupo que chegou em um ponto de ônibus à meia noite, mas o coletivo já tinha passado. Lá também estava uma garota que pegaria a mesma linha. Ela então pediu um táxi e convidou a menina para ir junto. Desconfiada, ela teria perguntado à mulher por que estava fazendo aquilo e a resposta foi: ‘por que somos mulheres. Se uma não ajudar a outra, quem irá nos proteger?”. O relato mencionava ainda que o taxista ficou emocionado com a iniciativa e a mulher compartilhou ainda que recebeu um abraço “tão gostoso” que ela até “tinha matado um pouquinho a saudade da filha” que morava longe.
Na página ‘Vamos Juntas?’ outras mineiras também já deixaram seus relatos. Veja alguns:
História do ‘Vamos Juntas?’
Babi Souza conta que o movimento começou concretamente no dia 30 de julho, mas que a ‘sementinha’ já germinava dentro dela há algum tempo. “Comecei a estudar e pesquisar sobre colaborativismo e empreendedorismo social e entrei em contato com a incrível ideia de que as pessoas têm o poder de melhorar as suas vidas através da união e que juntos podemos mais e somos mais felizes”, diz.
Como a jornalista já estava em contato com essa forma de ver o mundo, o projeto, segundo ela, surgiu como uma solução colaborativa para um problema real que as mulheres passam todos os dias. “Tive o estalo no caminho de volta para casa e junto com a designer Vika Schmitz fizeram uma arte explicando qual seria a ideia do movimento. O objetivo era postar apenas nas minhas redes sociais para contar sobre essa ideia para as minhas amigas. A repercussão foi tanta que em menos de duas horas pessoas de fora do meu círculo de amizade estavam compartilhando a imagem e perguntando se tínhamos página. Aí me senti obrigada criá-la”, afirma
Babi diz que o projeto é feminista. “Buscamos a liberdade de ir e vir em segurança e a campanha também tem empoderado muitas mulheres. No entanto, entendemos que a igualdade de gêneros deva interessar a homens e mulheres, uma perspectiva diferente da maioria dos movimentos intitulados feministas. Não banimos homens da página, por exemplo, porque acreditamos que essa conscientização de como as mulheres se sentem na rua deve acontecer”, explica.
Ela e mais cinco voluntárias estão cuidando da página no Facebook e administrando os grupos criados para cada região do país. “Recebemos mais de 80 mensagens por dia”, revela. A ideia agora é, através de um financiamento coletivo, criar e manter um aplicativo para para tornar os encontros dessas mulheres possíveis.