Sua menstruação é normal? Talvez essa pergunta tenha feito você franzir a testa e se questionar: afinal, o que poderia haver de anormal em algo tão particular quanto o ciclo de cada mulher? Algumas mulheres menstruam por quatro dias, outras por sete; algumas têm fluxo moderado, outras intenso; algumas sentem cólicas e TPM, outras não experimentam nenhum desconforto. Mas há um consenso médico do que é normal ou anormal e ele passa pelo impacto do sangramento na vida cotidiana de cada mulher.
Várias sociedades médicas definiram que quando a menstruação impacta negativamente e de forma recorrente a qualidade de vida – faz com que ela cancele eventos, precise programar sua rotina pautada pelo sangramento, não consiga dormir ou socializar, se sinta fraca ou incapacitada, por exemplo – ela não é normal. (Thais Ushikusa, ginecologista)
Embora quase não se fale sobre isso, essa situação desconfortável tem nome e sobrenome: SUA – Sangramento Uterino Anormal.
Estudos demonstram que uma em cada três pessoas que menstruam seja afetada pelo SUA¹ em algum momento de sua vida. Mas se ele é tão recorrente, por que ouvimos tão pouco sobre essa condição?
Existe um espaço virtual que reúne informações confiáveis sobre o SUA: naoenormal.com.br. Lá dá pra tirar dúvidas sobre menstruação, responder a um quiz que dá dicas sobre seu ciclo menstrual, se informar sobre formas de tratamento para SUA e fazer contato com ginecologistas.
Mais um ponto positivo? Você pode simplesmente encaminhar o link do site ou o quiz para aquela amiga que talvez esteja convivendo em silêncio com o SUA sem coragem de tocar no assunto.
Quebrar o tabu sobre assuntos relacionados à menstruação, olhar para o que acontece com nossos corpos e conversar sobre isso são passos essenciais para a saúde e o bem estar.
“Um estudo publicado, em maio de 2021, apontou que metade das mulheres com SUA não tinham diagnóstico correto; em média, as mulheres com a condição demoravam 3 anos para buscar tratamento e as que levaram mais tempo para procurar ajuda foram as mais jovens”, diz a ginecologista.
Parte dessa dificuldade de diagnóstico se deve à subjetividade da menstruação e à falta de diálogo sobre ela. Para a veterinária Bruna Elexpe, por exemplo, o medo de vazamento causado pelo sangramento uterino anormal começou no colégio, nas aulas de educação física, e chegou até a vida adulta:
Eu me lembro que não quis participar de uma das aulas com medo da menstruação vazar. Os times eram mistos, como eu ia explicar pros meus amigos meninos que não ia participar porque estava menstruada? (Priscilla Elexpe, veterinária, sofre com SUA desde os 14 anos.)
E para a Bruna, aquele fluxo era normal; ou pelo menos era isso que todos diziam a ela desde sua primeira menstruação, aos 14 anos.
Em conversa com o Dr. Drauzio Varella e a Dra. Thais Ushikusa, a Bruna conta como identificou os sintomas de SUA e qual o tratamento que mudou sua vida.
A Dra. Thais explica que o considerado “normal” pelos critérios médicos é que a menstruação dure entre três e sete dias, que ocorra em um intervalo de 24 a 38 dias e que o volume seja de até 80 ml por ciclo menstrual.
Mas quem contabiliza os mililitros de menstruação?
Felizmente, a tecnologia chegou para dar uma mãozinha para as mulheres. Aplicativos como o Fluxo Menstrual, disponível no Google Play e na Apple Store permitem que cada mulher controle sua perda de sangue ao longo do ciclo. No dia final, o app calcula quantos mililitros de sangue foram perdidos e, no caso de sinais de SUA, gera um relatório, que pode ser compartilhado com o médico. Fácil, né?
Mesmo com uma ajudinha do aplicativo, observar como você se sente em relação ao sangramento e quanto ele afeta sua vida cotidiana é essencial.
Esse tipo de desconforto pode afetar vários aspectos da vida da mulher, como sua profissão – imagine precisar encarar o trabalho e gerenciar um sangramento excessivo – e até a relação sexual.
“Para algumas mulheres, o sangramento é tão intenso que pode causar deficiência de ferro e levar à anemia. Isso pode fazer com que ela se sinta cansada, fraca e pode haver até queda de libido, além, é claro, da dificuldade de manter relação pelo fluxo sanguíneo”, explica a ginecologista Thais Ushikusa.
Fonte: Universa