Julia Arbex
Colaboração para Universa
Não é de hoje que mulheres lutam pelos seus direitos, diferentemente do que pensa quem diz que feminismo é um modismo. Lutas passadas, aliás, beneficiam homens e mulheres até hoje. Veja alguns exemplos:
Direito de trabalhar
Durante séculos a mulher foi oprimida dentro de casa e considerada mera reprodutora. “Foi a partir da Revolução Industrial (século 18), quando o lucro passou a ser o objetivo das sociedades, que as portas do mercado de trabalho se abriram para as mulheres. Autorizadas pelo pai ou marido, elas passaram a trabalhar em minas e fábricas, mas não tinham direitos nem qualquer tipo de proteção. Cumpriam jornadas exaustivas, de 14 a 16 horas por dia, sob condições precárias e sujeitas a diversos tipos de abuso, além da remuneração bastante inferior à destinada aos homens”, explica Carla Cristina Garcia, antropóloga e professora na PUC-SP. Inclusive, em 1857, centenas de operárias morreram queimadas por policiais em uma fábrica têxtil de Nova York (EUA) enquanto reivindicavam a redução da jornada de trabalho e o direito à licença maternidade. Em homenagem às vítimas, em 1911, foi instituído o dia 8 de março como o Dia Internacional da Mulher.
No Brasil, o primeiro passo para a criação de normas de proteção ao trabalho da mulher foi em 1912, que não foi aprovado. Somente a Constituição de 1988 conseguiu operar uma reforma completa. “Apesar dos avanços, ainda hoje os salários dos homens continuam mais altos que os das mulheres. Além do contexto financeiro, o desiquilíbrio da situação também é prejudicial à qualidade de vida da mulher pois, na maioria das vezes, é ela quem tem que encarar também uma jornada doméstica e de educação dos filhos. Isso porque ainda há uma má distribuição de papéis na sociedade brasileira.”
Direito de votar
Este ano teremos eleições no Brasil e todos aqueles com idade acima de 16 anos poderão votar para eleger o presidente da República, governador, senador, deputado federal, deputado estadual ou distrital. Até o início do século 20, na maioria dos países, o voto era um direito exclusivo dos homens, especialmente dos ricos. Ou seja, a representatividade de toda a população era determinada pelo gênero masculino da classe alta.
Segundo Carla, a luta das sufragistas – ativistas que se mobilizaram e mostraram que lugar de mulher também é nos centros de decisão do país -, misturava-se à do movimento operário contra a exploração dos trabalhadores. Nova Zelândia, em 1893, e Finlândia, em 1906, foram os primeiros países a reconhecer o direito das mulheres ao voto.
“No Brasil, apesar da luta ter começado muito antes, as mulheres conquistaram esse direito em 1932, com Getúlio Vargas no poder. Finalmente as brasileiras puderam participar da escolha dos seus candidatos para a Assembleia Constituinte, mas o voto feminino ainda era facultativo. Somente em 1934 foi transformado em dever”, conta. Mas mesmo que mulheres representem metade da população, elas ainda são minoria na política?
Direito ao anticoncepcional
A pílula chegou ao mercado nos anos 60 e revolucionou a saúde e o comportamento das mulheres. Elas passaram a ter mais autonomia sobre o próprio corpo, com a tomada de decisão a respeito de querer ou não ter filhos, gerando também uma mudança na relação com o sexo, principalmente sem a condição de estarem casadas.
Em 1950, a norte-americana Margaret Sanger, enfermeira e ativista do controle de natalidade, teve um papel importante na popularização do anticoncepcional. Em 1965, 6,5 milhões de americanas já tomavam pílula. Aqui, seu comércio teve início em 1962.
Hoje, o anticoncepcional está sendo questionado, levando em conta seus riscos. Além disso, as mulheres procuram uma partilha de responsabilidade sobre a contracepção com os homens, já que questões de saúde da mulher voltaram a ganhar força.
Direito à creche
Teve luta até pelo direito à creche, que dá suporte tanto à mãe trabalhadora quanto à família. A emergência dessa instituição que nasceu na França ocorreu, principalmente, a partir da segunda metade do século 19. Aqui no Brasil, apesar das conquistas ao longo dos anos, na década de 70 as mulheres ainda organizavam atos pela construção de creches para garantir melhores condições de trabalho para as mães e um serviço de qualidade para as crianças. A Constituição de 1988 definiu a creche e a pré-escola como direito de família e dever do Estado.
Direito à vida
Apesar de todas as conquistas das mulheres ainda persiste a violência doméstica e familiar. De acordo com carla, como os homens perderam o domínio absoluto para dominar e tomar as decisões do lar e se impor sobre a mulher, muitos usam a força bruta para fazer valer suas vontades ou desestabilizar a companheira. Desde 2006, está em vigor no país a Lei Maria da Penha. O nome foi dado em referência a Maria da Penha Maia Fernandes, que em 1983 sofreu várias agressões do marido, sendo uma delas um tiro de espingarda, que a deixou paraplégica. Ela iniciou uma dura batalha para que seu agressor fosse condenado, mas isso só aconteceu quase dez anos depois. Em 2006, o Congresso aprovou a lei, que já foi considerada pela ONU como a terceira melhor lei contra violência doméstica do mundo.
Fonte: Universa