Após visita ao Oriente Médio, a representante especial do secretário-geral para a violência sexual em conflitos detalhou no Conselho de Segurança o drama de meninas e mulheres
Mulheres yazidis do Iraque, vendidas como escravas pelo Estado Islâmico do Iraque e do Levante (ISIL) e outros grupos terroristas, têm o valor de um maço de cigarros, disse Zainab Bangura, representante especial do secretário-geral para a violência sexual em conflitos.
A representante voltou de uma missão ao Oriente Médio em abril durante a qual se encontrou com mulheres e meninas que sobreviveram à violência sexual. No Conselho de Segurança, Bangura apresentou a situação de milhares de meninas da região e reforçou que a educação é a chave para alterar esse cenário.
“Eu estava com o coração partido”, afirmou Bangura. “Eu escutei meninas que tentaram cometer suicídio, meninas que tentaram saltar para fora das janelas, fugir, e meninas cujas famílias tiveram de pagar o resgate. Eu acho que essas histórias realmente me chocaram”.
A funcionária da ONU foi à Síria, ao Iraque, Turquia, Líbano e Jordânia. Na Síria, uma em cada três mulheres corre o risco de violência baseada no gênero. A crise de cinco anos tem dado origem a novos padrões de casamentos forçados entre crianças e soldados e escravidão sexual. A violência sexual é cada vez mais utilizada como uma arma de guerra.
Segundo, informações que Bangura recebeu durante sua visita, e de relatórios subsequentes, o ISIL teria emitido um regulamento que estabelece os preços a serem pagos para mulheres e meninas cristãs e yazidis, que variam de acordo com a idade. A promessa de acesso sexual a mulheres e meninas tem sido utilizada em materiais de propaganda do ISIL como parte de sua estratégia de recrutamento e um número estimado de 1,5 mil civis podem ter sido forçados à escravidão sexual.
“O momento mais difícil foi, na verdade, na Jordânia, onde me contaram sobre uma garota que, nos últimos quatro anos, tinha sido casada 22 vezes. Ela tem 21 anos, e cada vez que esse casamento é organizado, eles a operavam para reconstruir a sua virgindade de forma que ela se tornasse virgem para seu próximo casamento”, alertou
O que todas as vítimas parecem ter em comum é o medo da reação de membros da comunidade e da família e o estigma associado a sobreviventes de violência sexual, o que resulta em um baixíssimo número de registros, um dos principais desafios que Bangura ouviu durante toda a sua viagem. Para poder confrontar os governos e pedir respostas, ela instou grupos de ONGs trabalhando na questão de mulheres refugiadas a recopilar o máximo de informação possível.
Fonte/Foto: ONU Brasil