Quase três em cada quatro jornalistas mulheres afirmam terem sido alvo de ataques on-line, que se estenderam à vida real em 20% dos casos – revela um estudo mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), divulgado nesta sexta-feira (30).
A violência on-line contra mulheres jornalistas “oscila entre ataques em grande escala, ou ameaças extremas em um dado momento”, e agressões “constantes de um nível inferior”, nas redes sociais, relata a Unesco.
O vasto estudo cobriu 901 jornalistas de 125 países e consistiu em entrevistas, estudos de caso por país e análise de mais de 2,5 milhões de mensagens de Facebook e Twitter que citam duas jornalistas investigativas: a britânica Carole Cadwalladr e a americano-filipina Maria Ressa, vencedora este ano do Prêmio Mundial da Liberdade de Imprensa Unesco/Guillermo Cano.
“A misoginia se soma a outras formas de discriminação: as jornalistas negras, lésbicas, ou de algumas religiões, por exemplo, sofrem muito mais discriminação”, disse Saorla McCabe, principal conselheira para o desenvolvimento da comunicação, informação e mídia da Unesco.
Enquanto 64% das jornalistas brancas declaram terem sido atacadas on-line, essa taxa dispara para 81% entre as profissionais negras. No caso das heterossexuais, o percentual é de 72%, contra 88% entre as homossexuais.
Em geral, esses ataques se concentram “em características pessoais, como seu físico, sua origem étnica, ou cultural, muito mais do que no conteúdo de seu trabalho”, explica McCabe.
E esta ciberviolência se estende à vida real: 20% das jornalistas entrevistadas afirmam terem sofrido agressões, insultos e assédio relacionados aos ataques cibernéticos. No caso das mulheres árabes, o percentual chega a 53%, segundo a Unesco.
Além disso, 26% das entrevistadas afirmam que esta violência afeta sua saúde mental, e 30% mencionam o risco da autocensura nas redes sociais.
As redes sociais são os “principais vetores” desta ciberviolência, especialmente as mais utilizadas pelas jornalistas, Facebook e Twitter, indica o relatório.
É “necessária” uma “maior transparência” sobre a maneira como são administrados os “processos de moderação” destes ataques nas plataformas onde acontecem, conclui McCabe.
Fonte: UOL