Aluna de medicina da Universidade Federal de Viçosa, Camila Vidotti participou de um projeto multidisciplinar sobre câncer de mama na Universidade de Sydney. “Foi uma das experiências mais gratificantes que já tive”, disse a jovem. No contexto da campanha Outubro Rosa, ela alerta para a alta incidência do câncer de mama e para a importância da prevenção e do diagnóstico precoce.
O esforço para melhorar a prevenção, antecipar o diagnóstico e reduzir a mortalidade do câncer de mama é mundial. Foi o que descobriu a estudante de medicina Camila Vidotti durante a graduação-sanduíche pelo programa Ciência sem Fronteiras na Universidade de Sydney, na Austrália. Aluna da Universidade Federal de Viçosa (MG), ela teve a oportunidade de trabalhar junto com os maiores pesquisadores em percepção radiológica do mundo, os professores Patrick C Brennan e Mohammed Rawashdeh. Com eles, a jovem descobriu como a ciência está engajada na luta contra o câncer.
“Foi uma das experiências mais gratificantes que já tive”, disse Camila em entrevista ao Portal do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC).
No contexto da campanha Outubro Rosa, que busca alertar a sociedade para a importância da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de mama, Camila contou a experiência de trabalhar com uma equipe multidisciplinar. “Vi muitas inovações já alcançadas, mas ainda há muitos caminhos a serem percorridos para a implementação dessas novas descobertas.”
Na volta para o Brasil, a jovem pretende continuar a pesquisa, aplicando o conhecimento adquirido com a experiência na Austrália.
MCTIC – Qual foi a sua motivação para participar de um projeto sobre câncer de mama fora do país?
Camila – Ao entrar para o programa Ciência sem Fronteiras, eu tive a intenção de participar de uma pesquisa para ganhar mais experiência em medicina. Como me interesso muito pela área de radiologia, fui apresentada a um dos melhores pesquisadores nesta área, o professor Patrick C Brennan, que me informou sobre um grande projeto de pesquisas multidisciplinares dentro da Universidade de Sydney voltado para o câncer de mama. Após pesquisar mais sobre o projeto, me apaixonei pelo tema ao ver o quanto poderia aprender e crescer com ele.
MCTIC – Como era formada a equipe de pesquisa na Austrália?
Camila – O que mais me impressionou foi que, ao contrário do que eu esperava, havia uma quantidade semelhante de homens e mulheres no projeto. Além disso, me chamaram a atenção a receptividade e a diversidade da equipe, composta por pesquisadores de várias nacionalidades e níveis de formação, por exemplo, acadêmicos, doutorandos, pós graduandos, mestres e doutores. Consegui perceber que estavam todos reunidos com a finalidade comum de desenvolvimento de várias ferramentas diagnósticas para o câncer de mama.
MCTIC – Qual é a importância da pesquisa científica para a prevenção e o tratamento da doença?
Camila – O câncer de mama é um dos tipos mais comuns, com alta incidência mundial e uma causa relevante de morte entre as mulheres. Só no Brasil, a estimativa é de 57.960 novos casos em 2016, segundo dados do INCA [Instituto Nacional do Câncer]. Para termos uma noção real do quanto esse assunto é importante atualmente, gosto de mostrar alguns números. A chance de ganhar na loteria é de 1 em 50 bilhões e mesmo assim não desistimos de jogar. A chance de um avião cair é de 1 em 89 bilhões e ainda assim seguramos firmemente na cadeira durante as turbulências no avião. Já a chance de uma mulher desenvolver câncer de mama durante sua vida é de 1 em cada 8 mulheres nos Estados Unidos, 1 em cada 9 na Austrália e 1 em cada 10 no Brasil. Por isso, devemos nos conscientizar e procurar meios de prevenção, redução da mortalidade e melhora dos meios diagnósticos para detecção mais precoce desse câncer. Sendo assim, trabalhar com esse tema, atuando na pesquisa de fatores que possam melhorar o diagnóstico radiológico do câncer de mama, por meio da mamografia, foi uma das experiências mais gratificantes que já tive.
MCTIC – Você, mulher e cientista, sente que é uma responsabilidade pesquisar o assunto? Qual é o desafio?
Camila – Sendo mulher, trabalhar com esse tema foi motivador e desafiador ao mesmo tempo. Tive várias experiências ao longo do meu curso de medicina e durante a vida com pessoas com câncer e sabia do impacto emocional que o diagnóstico dessa doença gera na pessoa acometida e nos familiares. E, apesar de a ciência e a tecnologia terem avançado muito nesse aspecto, a mortalidade por esse tipo de câncer ainda é muito alta, e o tratamento exige muita superação. Vejo que há muito a ser pesquisado e investido nessa área e, principalmente sendo mulher, tive muito interesse em estudar a doença, buscando maneiras de, junto com a melhoria dos métodos diagnósticos, reduzir a carga emocional das mulheres ao serem diagnosticadas. É um desafio muito grande, pois, durante a pesquisa, vi muitas inovações já alcançadas, mas ainda há muitos caminhos a serem percorridos para a implementação dessas novas descobertas. Em apenas um ano de participação nesse projeto, vi vários resultados sendo publicados em conferências na Austrália, Nova Zelândia, Europa e Estados Unidos. Inclusive, consegui publicar um pôster na conferência da Nova Zelândia, apresentar um artigo na Califórnia e presenciar pesquisadores do mundo inteiro envolvidos com prevenção, tratamento e diagnóstico do câncer de mama, com propostas inovadoras.
MCTIC – A partir do que você aprendeu lá fora, quais são as suas expectativas?
Camila – Juntamente com a minha equipe do projeto da Universidade de Sydney, consegui continuar meus estudos e minha pesquisa mesmo após retornar para o Brasil. Quando fui convidada a fazer a apresentação oral no congresso da Califórnia, para me ajudar financeiramente, fiz uma campanha divulgando o meu projeto. Essa divulgação foi muito importante, pois, a partir daí, pude conhecer vários grupos de apoio a mulheres com câncer de mama e me engajar em institutos brasileiros de pesquisa. Com toda esta bagagem e experiência adquirida, espero continuar a pesquisa, aplicando o conhecimento adquirido na realidade brasileira.