Um dos dados que mais chama atenção é o fato de 42% das mulheres entrevistadas afirmarem que adquirir o preservativo é algo muito desconfortável e 37% se sentem julgadas no momento da compra
Um dos principais assuntos em voga atualmente, sem dúvida, é o empoderamento feminino, porém, uma pesquisa encomendada pela marca Olla em comemoração ao Dia do Sexo (6/9), revela que o Brasil ainda tem um longo caminho a percorrer quando o assunto é a igualdade de gêneros. Um dos dados que mais chama atenção é o fato de 42% das mulheres entrevistadas afirmarem que adquirir o preservativo é algo muito desconfortável e 37% se sentem julgadas no momento da compra. A pesquisa entrevistou mil pessoas sexualmente ativas entre 18 e 35 anos de todo o Brasil.
Por isso, consultamos a antropóloga especialista em comportamento feminino Mirian Goldenberg para esclarecer os principais pontos da pesquisa. “As mulheres, especialmente as mais jovens, têm vergonha de levar camisinha na bolsa, pois sentem-se julgadas pelos outros ao levar ou comprar preservativo. Além disso, grande parte dos homens e das mulheres consideram que é mais natural que o homem compre a camisinha e tenha o preservativo no momento necessário”, diz a antropóloga. Ao responderem à mesma pergunta, 72% dos homens declararam achar natural e tranquilo comprar camisinha.
Outro ponto relevante do “Estudo Olla de Comportamento Sexual”, é que uma quantidade mínima de mulheres leva preservativos na bolsa. “77% das mulheres e 61% dos homens acham que as mulheres deveriam sempre levar camisinhas na bolsa, mas quando perguntamos quem realmente anda com o preservativo, os dados são bem diferentes. Enquanto 45% dos homens sempre estão com o preservativo, somente 29% das mulheres o carregam”, diz Mirian. Um dos dados mais impressionantes é que 63% das mulheres pesquisadas já fez sexo sem camisinha porque nenhum dos dois tinha o preservativo no momento da relação.
Mirian Goldenberg explica que a defasagem entre discursos, comportamentos e valores pode ser uma explicação para essas diferenças. “Apesar de defenderem uma maior igualdade de gênero em seus discursos, elas ainda têm receio do julgamento e do preconceito dos outros a respeito de seus comportamentos sexuais. Neste sentido, a vergonha não é necessariamente do parceiro, mas é uma vergonha cultural, vergonha de não corresponder a um modelo de ser mulher que controla ou reprime a própria sexualidade. Vergonha de ser uma mulher que é sujeito da própria sexualidade, que pode transar com quem quer e quando quer”, explica a antropóloga. “A mulher livre sexualmente é uma mulher que sofre acusações e que, também, internalizou as acusações e preconceitos sociais existentes”, complementa.
A antropóloga revela que realizou uma pesquisa anterior para mostrar a dupla moral sexual existente entre homens e mulheres. “Quando perguntei o que mais invejam nos homens, as mulheres responderam em primeiríssimo lugar: liberdade. A grande maioria delas falou que inveja a liberdade masculina relacionada à sexualidade e ao corpo. Elas desejam ser mais livres sexualmente e têm medo dos preconceitos, acusações e estigmas que podem sofrer. Acredito que esse quadro preconceituoso e repressivo deve mudar com a maior independência econômica e com a emancipação feminina”, afirma a especialista.
Saiba mais
A pesquisa, realizada pela Pinion, deu origem à campanha “Mulheres Com Pegada”, de Olla. A marca colocou uma máquina de distribuição de camisinhas em plena Avenida Paulista e, com um contador digital, mediu a quantidade – e a enorme diferença – de homens e mulheres que pararam para pegar o preservativo. Os resultados da ativação de rua e da pesquisa aparecem em um filme estrelado pela poeta Mel Duarte, conhecida por levantar o tema do empoderamento feminino nas redes sociais.
Fonte: A crítica