Para Gessé Marques, assassinatos femininos são frutos de machismo. Estudioso diz que o mais preocupante são as agressões dentro de casa.
No período de dois meses, a região de Piracicaba (SP) registrou casos de violência contra a mulher que repercutiram nacionalmente devido a crueldade dos agressores. Os mais recentes foram os da jovem espancada em um canavial em Capivari (SP) e da balconista morta com seis tiros em Piracicaba (SP). Nos dois crimes, os autores das agressões eram os ex-companheiros das vítimas.
Para o sociólogo e professor da Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep), Gessé Marques Jr. esses crimes não são atos isolados, mas consequências de uma sociedade machista. “A gente está em uma sociedade machista, onde as mulheres são vistas como posse dos seus companheiros e quando elas saem desse esquema, dependendo da relação, você tem uma relação violenta desses homens por causa de uma não aceitação da liberdade ou de uma independência mulher”, diz.
O professor ainda diz que a mulher é alvo de dominação e exploração dos homens e se torna alvo fácil da violência, pois é vista como um ser inferior.
“Dentro da nossa cultura brasileira, isso é esperado, porque você tem uma relação de dominação sobre as mulheres. As mulheres têm menores salários, elas ocupam menos postos de comando. Geralmente, elas trabalham mais , já que além de cuidar da casa e dos filhos, elas trabalham fora. A gente tem um situação de dominação e exploração da mulher. Então, às vezes , para o homem perder uma mucama ou empregada doméstica dessas é revoltante’, afirma.
Ambos os casos são considerados crimes passionais, no entanto, para o professor é um erro achar que esses homens agem dessa forma apenas por conta de terem sido rejeitados ou por vingança contra suas ex-companheiras.
“Geralmente, quando ocorrem esses casos, tende-se avaliar a situação de maneira individualizada, dizendo que o agressor é louco ou teve uma atitude descontrolada. Estamos em uma sociedade onde isso é normalizado”, afirma.
“Não é que é maluco, ou que ele tem anomalia porque ele não controla sua violência, é porque em nossa sociedade acaba sendo normal essa violência contra a mulher. Não devia ser tão espantoso assim esse crimes, já que não é espantoso uma mulher ganhar menos, ou sofrer esse assedio cotidianamente. Assim como ocorre em relação ao estupro. Eles não estupram alguém que eles consideram um igual. O estupro ocorre porque a mulher é vista como inferior”, explica.
Violência doméstica
O sociólogo ainda alerta que o grande problema da violência contra mulher são as agressões ocorridas no âmbito doméstico.“O problema não está na rua, está em casa. Tem muita mulher que apanha todo dia, pode não ter todo dia uma mulher que tem de fingir de morta em um canavial. A gente tende achar que o problema está no privado, no individuo. O problema está na sociedade. Nesses casos ocorridos na região, os homens exageram na violência? claro que sim, mas será que é tão fora assim das relações de opressão que tem sob a mulher na sociedade”, argumenta.
Ainda de segundo o professor, a sociedade acaba sendo tolerante em relação a violência contra a mulher. “Se a gente tivesse em uma sociedade que não aceitasse a violência contra a mulher, gente não teria casos como esses”, diz.
Gessé acredita que a solução para o problema da violência é algo complexo. “Isso é um processo longo, a gente tem que educar as pessoas de outra maneira, a mulher tem que ocupar mais espaços na vida pública”, afirma.
Fonte: G1