A deputada Leandre Dal Ponte (PV-PR) usou a tribuna da Câmara, na tarde desta quarta-feira, 24, no período do grande expediente, para contar um pouco da sua trajetória na área da saúde pública, ao tempo em que aproveitou a ocasião para dedicar o seu discurso a todos que lutam e sofrem pela busca incansável de um tratamento digno de saúde.
A parlamentar sensibilizou todos os presente ao relatar os enormes desafios que enfrentou, desde o momento em que decidiu abraçar a causa da saúde pública e enfrentar as mazelas que a acompanham, se unindo de corpo e alma a milhares de brasileiros que lutam diariamente pela simples oportunidade de continuar vivendo.
Leandre falou da sua experiência, quando tinha apenas 19 anos de idade, como Secretária Municipal de Saúde de uma pequena cidade do Paraná. Mesmo com muito pouco conhecimento na área, a não ser a experiência de quem nasceu em uma família pobre, com onze irmãos, e viveu e presenciou a inexorável rotina de madrugar em grandes filas para conseguir um atendimento, Leandre não se intimidou quando se viu diante do enorme desafio que assumia.
A deputada lembrou que, apesar dos inúmeros obstáculos, haja vista que no município não havia hospital, nem médicos, nem enfermeiras, mas apenas uma auxiliar de enfermagem e alguns poucos funcionários práticos sem formação, logo que assumiu o cargo tratou de aprender o máximo possível sobre o assunto e, quando se viu, já estava apaixonada pela área e com a certeza de que aquela seria a principal missão da sua vida.
“Fiz um levantamento minucioso do município e comecei a fazer um planejamento de longo prazo, ousando sonhar com coisas que, para aquela época, só caberiam mesmo em um sonho: como implantar, no ano de 1997, naquela pequena cidade, uma das primeiras equipes de Saúde da Família do Brasil. Realmente era como um sonho ter um médico morando na cidade para cuidar daquelas pessoas”, disse Leandre, lembrando, porém, que na época, em função da falta de estrutura do município, era obrigada a encaminhar a maioria dos pacientes para a capital do estado para realizar o tratamento.
“Inúmeras foram as pessoas que desistiram dos tratamentos por não suportarem a distância e o sofrimento de terem que enfrentar, muitas vezes sozinhas, no pior momento de suas vidas, num perambular de rodoviárias e hospitais, albergues ou favores de parentes, sem o mínimo de apoio e estrutura para permanecer na capital e levar o tratamento até o fim. Tratamento que na maioria das vezes demorava meses, até mesmo anos”, ressaltou.
Com muita emoção, Leandre compartilhou com seus colegas a história da criação da fundação da Casa de Apoio Ideal, que nasceu com o objetivo de oferecer um local que respeitasse a dignidade daqueles que precisam recorrer a um tratamento médico na capital, mas que não possuíam recursos para promove-lo.
A deputada contou que, no ano de 2000, quando se viu obrigada a deixar o cargo de secretária por conta da derrota eleitoral do prefeito que a nomeou, fez a opção de se mudar para a capital e levar adiante o seu sonho de montar um local que serviria para acolher os pacientes e seus familiares durante o período de tratamento, com um serviço completo de hospedagem, alimentação e transporte, algo que pudesse, no mínimo, amenizar todo o sofrimento que testemunhou, diversas vezes, quando visitou e constatou a enorme precariedade das instalações que acolhiam os pacientes oriundos do interior do estado. Foi neste momento que fundou, com ajuda de um médico que comprou a sua luta, a Casa de Apoio Ideal, “uma mistura de pensão e rodoviária”, lembra a parlamentar.
“Durante dez anos que passei ali, trabalhei muito, numa rotina que começava as 4 da madrugada e não tinha hora para acabar, mas vi a Ideal crescer dia a dia e se tornar a maior e melhor Casa de Apoio do Estado do Paraná, reconhecida pelos seus serviços por mais da metade das cidades do Estado”, destaca.
Ela explica, contudo, que só cuidar bem e oferecer um serviço de apoio com qualidade nada adiantava, se as pessoas não tivessem o tratamento necessário de suas enfermidades e em tempo suficiente para terem a oportunidade de se curar. “Aí, mais uma vez, eu me vi de novo numa encruzilhada: ou fechava os olhos e acreditava que já fazia a minha parte prestando um serviço de qualidade ou lutava por essas pessoas, até por que tinha consciência que era possível fazer mais e me sentia capaz de ir além”, acrescenta.
O ponto alto do seu discurso foi quando ela confessou que foi com essa missão, e o sentimento de que poderia fazer mais e melhor, que candidatou-se ao cargo de deputada federal. “Essa gente que sofre calada me entregou um grande manifesto. Fizeram um enorme abaixo assinado, mas não um abaixo assinado tradicional composto por assinaturas em varias folhas de papel. É um abaixo assinado feito de retalhos, retalhos que tem seus nomes pintados ou bordados, onde cada pedaço conta uma pequena história. Mas quando esses retalhos se juntam formam uma grande colcha de pessoas e conta uma grande historia, a historia da saúde Brasileira. São historias de pessoas que, caladas, sofrem em um mundo paralelo quase que desconhecido pela maioria da sociedade. Pois só tomamos ciência dos verdadeiros problemas da saúde do nosso país quando precisamos dela”, disse Leandre, estendendo um pequeno pedaço da colcha, que, originalmente, conta com mais de 40 mil retalhos alinhavados e aproximadamente 800 metros de comprimento.
“Esses retalhos na verdade juntam esperança e vida. Simples assim, mas representam um enorme grito entalado na garganta das pessoas. O grito de quem precisa de atendimento digno, o grito de quem tem urgência de viver, o grito de quem não é só um número numa lista de espera. É o grito dos anônimos cansados de esperar por promessas que nunca se realizam. Esses retalhos querem mostrar que as pessoas, mesmo que com a vida por um fio, são importantes. Elas têm nome, têm endereço e têm urgência. Elas têm família que as esperam, e querem voltar para casa”, completou.
Por fim, ela aproveitou para pedir o apoio dos seus pares na luta por uma saúde pública de qualidade e acrescentou que sua missão como deputada federal está apenas começando.
Fonte: Assessoria de comunicação Lid/PV
Foto: Gustavo Lima/Agência Câmara